Vinícius de Moraes: Poética

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De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

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Ira! 15 anos

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Composição: Gasparini e Edgard Scandura

Quando me sinto assim
Volto a ter quinze anos
Começando tudo de novo
Vou me apanhar sorrindo


Seu amor hoje
Me alimentará amanhã
Eis o homem
Que se apanha chorando


Vivendo e não aprendendo
Eis o homem, este sou eu
Que se diz seguro
Que se diz maduro

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Tom Zé: o dólar não é real

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Sabe aqueles dias em que o cabra tem a obrigação de escrever, um monte de idéias (abaixo o novo acordo ortográfico) soltas na mente, mas não sai absolutamente nada? Pois é, esse é o quadro de momento. Para ver se pintava inspiração, folhei um exemplar antigo e manchado de Caros Amigos, e li - em vão - algumas linhas da entrevista de Ariano Suassuna. Nada. Liguei a tevê, zapeei por mais de uma dezena de canais e, como num passe de mágica, assisti um clipe de Tom Zé. Pronto, achei a tão perseguida pauta.

Decidi escrever em letras garrafais que Tom Zé, artista baiano revelado nos anos 60, é o cara. Pouquíssimos artistas fizeram da vanguarda musical e das experimentações moradia tal qual ele faz. Como se sucedem com todos os talentos dominantes, o reconhecimento da sua arte só se dará na posteridade. Por falar nisso, o filósofo alemão Nietzsche costumava dizer que não escrevia para os leitores da geração dele, mas para as pessoas de outro tempo.

Natural da sertaneja cidade de Irará, o septuagenário Antônio José Santana Martins é uma figura ímpar. Filho de comunistas e de “formação erudita”, será rebelde até o final dos dias. Provocar e chocar com letras sinuosas é a sua missão, tudo isso combinado com uma presença de palco insana e original. Além de cantor e tocador, é ator de mão cheia, pois vive profundamente a música quando a debulha.

No clipe que “espreitei”, Tom Zé manda o mercado financeiro “tomar na virgem” e, ainda por cima, queima a cédula de um dólar com um isqueiro de mercearia de bairro popular, daqueles que os fumadores de pacaio carregam no bolso. Imaginem só a story line da cena. De tão tosca e inconseqüente (mais uma vez abaixo o acordo feito pra quem não sabe escrever) é brilhante. É justamente aí, na galáxia dos loucos, que habita a magia. Sem auréolas de falso curador, isso é arte original, autêntica e tupiniquim. Cheia de incongruências, como é a cara marcada do Brasil, país rico de maioria morta de fome.

Certamente, nunca venderá mais de 100 mil cópias de “disco” e nem será agraciado com o Grammy Latino da categoria world music. O alento é que essa premiação não é lá parâmetro para muita coisa. Só para situar os desavisados, a apresentadora de programa de auditório e dublê de cantora Eliana já ganhou o Grammy. É óbvio que muita gente boa, a exemplo de Gilberto Gil e Milton Nascimento, também já venceu.

O fato é que Tom Zé continua sem fazer sucesso. Sorte dele, talvez. Ah, também prossegue polêmico e brilhante. Rápido como um raio, tem opinião para praticamente todas as prosas. É isso que o faz diferente, especial, assimétrico e inconceituável.

Como recado final, fica o ensinamento retirado da sapiência típica do Moleiro de Frioule: se for para ser mais do mesmo, é melhor até que não seja. Viva Tom Zé! O Cara!

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Aznavour: um dos maiores cantores de todos os tempos

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Aznavour nasceu Shahnour Vaghinagh Aznavourian (em armênio: Շահնուր Վաղինակ Ազնավուրյան), filho dos imigrantes armênios Michael e Knar Aznavourian. Seus pais, que eram artistas, o introduziram ao mundo do teatro em tenra idade.

Ele começou a atuar aos nove anos de idade e logo assumiu o nome artístico Charles Aznavour. Seu grande estouro aconteceu quando a cantora Édith Piaf o ouviu cantar e o levou consigo numa turnê pela França e pelos Estados Unidos.

Freqüentemente descrito como o Frank Sinatra da França, Aznavour canta principalmente o amor. Ele escreveu musicais e mais de mil canções, gravou mais de 100 álbuns e apareceu em 60 filmes, incluindo Atirem no Pianista e O Tambor. Aznavour canta em muitas línguas (francês, inglês, italiano, espanhol, alemão, russo, armênio e português), o que o ajudou a se apresentar no Carnegie Hall e noutras casas de espetáculos mundo afora. Ele gravou pelo menos uma canção do poeta Sayat Nova, do século XVIII, em armênio. "Que c'est triste Venise", cantada em francês, em italiano ("Com'è triste Venezia"), espanhol ("Venecia sin tí"), inglês ("How sad Venice can be", "The Old-Fashioned Way") e alemão ("Venedig im Grau") estão entre as mais famosas canções poliglotas de Aznavour. Nos anos 70, Aznavour tornou-se um grande sucesso no Reino Unido, onde sua canção "She" saltou para o número um nas paradas de sucessos.

Admirador do Quebeque, ele tem ajudado a carreira da cantora e letrista quebequense Lynda Lemay na França, e tem uma casa em Montréal.

Desde o terremoto de 1988, na Armênia, Aznavour tem ajudado o país através de sua obra caritária: a Fundation Aznavour Pour L'Arménie ("Fundação Aznavour para a Armênia"). Há uma praça com seu nome na cidade de Erevan, na rua Abovian. Aznavour é membro da Câmara Internacional do Fundo de Curadores da Armênia. A organização tem arrecado mais de 150 milhões de dólares em ajuda humanitária e assistência de desenvolvimento de infra-estrutura para a Armênia desde 1992. Charles Aznavour foi nomeado como "Officier" (Oficial) da Légion d'Honneur em 1997.

Em 1988, Charles Aznavour foi eleito "artista do século" pela CNN e pelos usuários da Time Online espalhados pelo mundo. Aznavour foi reconhecido como notável performer do século com cerca de 18% da votação total, desbancando Elvis Presley e Bob Dylan. Após a morte de Frank Sinatra, Charles Aznavour é o último dos crooners tradicionais.

A lista de artistas que já cantaram Aznavour abrange de Fred Astaire a Bing Crosby, de Ray Charles a Liza Minelli. Elvis Costello gravou "She" para o filme Notting Hill. O tenor Plácido Domingo é um grande amigo de Aznavour e freqüentemente canta seus hits, principalmente a versão de Aznavour de Ave Maria, de 1994.

No início do outono de 2006, Aznavour iniciou sua turnê de despedida, apresentando-se nos Estados Unidos e no Canadá, deixando ótimas lembranças. Para 2007, Aznavour tem concertos agendados no Japão e no resto da Ásia.[carece de fontes?] Ele tem afirmado repetidamente que essa turnê de despedida, se a saúde lhe permitir, vai ultrapassar 2010. Com mais de oitenta anos de idade, Aznavour demonstra excelente saúde. Ele ainda canta em várias línguas e sem teleprompters, mas tipicamente canta apenas em duas ou três - francês e inglês são as duas primárias - espanhol e italiano em terceiro lugar, durante a maioria dos concertos. Em 30 de setembro de 2006, Aznavour apresentou-se num grande concerto em Erevan, capital da Armênia, como estréia da série "Armênia, minha amiga" na França. O presidente armênio Robert Kocharian e o presidente francês Jacques Chirac, à época em visita oficial à Armênia, estavam na primeira fila.


Fonte: Wikipedia.


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A volta do irmão do Henfil

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*Nota sobre a música O Bêbado e o Equilibrista.

O irmão do Henfil, famoso cartunista brasileiro morto em decorrência da AIDS, era o brilhante sociólogo Heberth de Souza, o Betinho, também vítima da mesma doença.

No final dos anos 70, Betinho, opositor ao regime militar instalado com o Golpe de 1964, encontrava-se exilado na França. Tinha definido que, diante do conturbado cenário político, não voltaria mais a viver no Brasil.

Também achava que não valia mais a pena lutar contra a repressão, já que tantas pessoas perderam a vida em nome da causa e nem por isso os militares deixaram de desfrutar do apoio da maioria da população.

Até que a dupla João Bosco (música) e Aldir Blanc (poesia) escreveu “O bêbado e o equilibrista”, que, em tom de metáfora, bradou o sonho da liberdade política, e cravou para a história o verso “Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil”. Pronto, Betinho transformou-se em signo da luta contra a ditadura.

O sociólogo, ainda em Paris, ouviu a canção pela primeira vez por telefone. Retornou ao Brasil logo após a anistia e, por fim, entendeu que “o show tem que continuar”. Sempre!

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O bêbado e o equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc)

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Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona do bordel

Pedia a cada estrela fria um brilho de a...lu...guel
E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco louco
O bêbado com chapéu coco fazia irreverências mil
Prá noite do Bra...sil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu num rabo de foguete

Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram marias e clarisses no solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente
A espe...rança dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se ma...chu...car
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
tem que continuar

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Ode para tal

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Transita espigada balançando os braços e as cadeiras pelos corredores vazios de boas idéias. Sacode os cachos tonalizados e coça o olho de maneira especial, de forma a provocar olhares incautos de praticamente todos os circundantes.

Nada parece que é natural. Tenho a impressão de que tudo é treinado e artificial. De tão ensaiado e decorado, tornou-se parte do “seu” ser, como fazem as top models que levam para o dia-a-dia (foda-se o novo acordo ortográfico) o ar andrógino e os trejeitos esquisitos das passarelas.

Se pudesse estabelecer uma comparação de momento para defini-la, o faria talvez com a autora do relato de “A Casa dos Budas Ditosos”. Arpia, sádica, sacana, escrota, envenenada, traidora nata. Helena de Tróia? Um dia talvez, mas ainda terá que melhorar muito.

Fêmea dominante, estaria certamente na arca de Noé dos seres humanos. A camisa dez da seleção feminina de futebol de todos os tempos. Alías, a camiseta de número nove lhe cairia melhor, pois o seu perfil é mais de centroavante do que de meio-campista de armação. Com a bola nos pés, seria uma espécie da Dadá Maravilha de saias, uma matadora nata... incapaz de fazer seis embaixadinhas. Coisas típicas de predadora.

No palco da vida melhor atriz não há. Desarma a todos. Tem sempre uma boa e velha piada na bolsa. Justificativas e desculpas, então, nem se fala. Mas - de quando em vez - a danada faz uma carinha de piedade. Uma expressão, assim, de quem está vazia.

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Quem são eles?

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Desde muito tempo estão os “dito cujos” a usufruir da bendita fruta da ignorância alheia, que durante diversas estações lhe renderam festas pomposas, extravagâncias aos filhinhos, salamaleques mil e o duvalier adocicado das comemorações. Têm, certamente, saudade da época em que davam as cartas, desmandavam na cidade e promoviam orgias sob o argumento mal versado do benefício coletivo.

Hoje, sentem-se maltratados. Não suportam esses meninos comunistas metidos a gênio, que para tudo parecem ter resposta. “Não sabem nada. ‘Cambada de sem voto’”, cochicham pelos corredores dos prédios públicos. Muitos deles – os inconformados – agem ainda como se fosse detentores da delegação maioral do povo.

Imorais, inescrupulosos e incompetentes. Não fizeram nada além de surrupiar a merenda do coleguinha e engordar o próprio patrimônio. Bando de escroques. Pensam ser ainda o centro do mundo. Nunca foram. Mercadores de consciência, isso sim! A vida os viveu e não o contrário.

Eles estão chorosos. Consideram os “do passado” mais lucrativos. Afinal, atendiam plenamente e exclusivamente os interesses exclusos do clã hediondo. Como golpistas de berço e deformados de cátedra, vão trair a qualquer momento. É certo que pensam nisso, portanto já o fazem em pensamento.

O aviso está dado, só cai quem quiser.

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MÚSICA: FLERTE FATAL

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Tanta gente hoje descansa em paz
Um rock star agora é lenda
Esse flerte é um flerte fatal
Esse flerte é um flerte fatal
Que vai te consumir
Em busca de um prazer individual
Esse flerte é um flerte fatal
É sempre gente muito especial

Muita gente já ultrapassou
A linha entre o prazer e a dependência
E a loucura que faz
O cara dar um tiro na cabeça
Quando chegam além
E os pés não tocam mais no chão
Esse flerte é um flerte fatal
Esse flerte é um flerte fatal

Esse flerte é um flerte fatal
Esse flerte é um flerte fatal
Esse flerte é um flerte fatal
Esse flerte é um flerte fatal

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Minha esquadra é espartana. Bora Baêêêêa!

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Perdemos, mas lutamos até o último instante. Além do mais, a nossa derrota não pode ser creditada na plenitude a competência do adversário. Muito menos a nossa inoperância.

Fomos gafados sacanamente pelo árbitro, que já havia operado antes para o Vitória em partida contra o Fluminense carioca, válida pelo Campeonato Brasileiro do ano passado. Na ocasião, ele deixou de marcar dois pênaltis a favor do time das Laranjeiras.

Desta vez, o juiz gaúcho – prefiro nem citar o nome - marcou uma penalidade controversa, oriunda de um lance fragoroso de impedimento, e deixou de expulsar o jogador Neto Baiano, do Vitória, que fez e abusou no segundo tempo.

Não ganhamos o Baianão por conta de dois gols. Mas reafirmamos que o Bahia é o time da raça. Passada a raiva e o desapontamento, vem agora o orgulho de ser tricolor e, principalmente, de expressar o que é ser baiano.

Estou confiante para a série B do Campeonato Brasileiro. Precisamos de reforços. Com todo o respeito, Marconi e Evaldo não têm condições técnicas de jogar no Esquadrão de Aço. Precisamos ainda de um “homem gol”.

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Poesia sem nome

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Quisera algo pra mensurar a dor

Pungente, daquelas silenciosas, cruéis e fatais;

Como o desejo amordaçado de quem ama,

Mas não pode, por pseudo pecado, dizer o nome do ser amado.

Só quem amou assim pode entender.

Corrói saber que o seu, neste momento, é de outrem;

Simplesmente o seu amor não o pertence.

Tão perto, distante, presente e ausente;

Passado praticamente dista e não existe.

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Lisergicamente

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Assim... acontece bem de repente e sem aviso prévio. O ideal, pelo menos para as grandes e boas histórias, é que o indivíduo acometido não tenha tempo e espaço para reagir. Aliás, tentativas de reação só pioram a situação, pois trata-se de uma briga desigual. De remédio, só há o tempo. O medicamento, porém, pode ter, a depender das respostas aos estímulos, um grave efeito colateral: a dependência.

Afinal, do que se trata o "textículo" acima?

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O costume do cachimbo deixa a boca torta

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Conta um certo adágio popular que, em época de eleição, os políticos beijam meninos catarrentos aos montes, comem infinidades de bolos solados e, sem esboçar a menor repulsa, pisam na mais nojenta lama em busca do produto mais desejado do momento: o voto. E foi assim, em uma das caçadas cotidianas ao “ouro de Moscou”, que um experiente candidato a vereador – vencedor e perdedor de muitos pleitos – rendeu subsídios à história relatada abaixo.

Em tempo de vacas magras e com baixa popularidade junto ao eleitorado, Roy Corrói, depois de quase uma década fora do poder, finalmente resolveu voltar à cena política. Como bom candidato de oposição, tinha clareza de que a periferia era o melhor lugar para “dar pau” nos governantes da vez, afinal é lá, na escória, onde as diferenças sociais e a má prestação dos serviços públicos são mais latentes. Portanto, para o objetivo em questão, valia regra do “quanto pior melhor”. Diante dessas condições objetivas, o discurso inflamado de Martelada, apelido conferido na época em que era agitador do movimento operário, fluía com naturalidade e soava como música aos ouvidos daquela gente insatisfeita por natureza.

Do alto do velho carro de som, uma quase finada Caravan modelo 1976, que também servia de palanque improvisado, Roy Corrói observava atentamente a expressão de cada um dos espectadores. A platéia não era numerosa, se resumia tão somente a uns 30 gatos pingados, mas, como pontuou um dos futuros assessores da eleição ainda incerta, já havia sido pior em outras épocas. Além do mais, a tendência natural é de que cada ouvinte passasse a ladainha proferida adiante, contagiando amigos e familiares.

A peleja político-partidária daquele dia estava praticamente concluída, restava apenas - encerrada o “parlação” – esperar os cabos eleitorais concluírem a distribuição dos panfletos confeccionados às duras penas na gráfica de um amigo e ex-signatário dos ideais revolucionários de outras épocas. De repente e oportunamente, chega um dos “frentes de massas” trazendo a informação de que um dos moradores mais populares e respeitados é um antigo admirador de Martelada. Mais do que isso: deseja conhecê-lo, a fim de expressar admiração e (por que não?) organizar uma grande e densa reunião de apoio.

O ímpeto foi de conhecer logo o “oráculo comunitário” e, a partir disso, iniciar a colheita dos frutos políticos que isso – mais tarde - renderia, mas Corrói tinha experiência suficiente para saber que cada coisa acontece no tempo certo. Ora, o bem se executa aos poucos, deglute-se com frieza e parcimônia. Lembrou-se que o candidato a prefeito da sua coligação faria um comício naquele reduto de miseráveis dali a uma semana. Essa seria, então, uma excelente oportunidade de mostrar liderança e impor respeito.

Afastou de prontidão a idéia de conhecer o velhusco naquela hora e tratou, através de “procuradores”, de ajeitar as bases para que o encontro acontecesse em sete dias, logo depois do comício do seu prefeiturável, um sujeito polido, sério e que não parecia ter a menor vocação e nem saco àquela dimensão política, tal era a sua indiferença em algumas situações. Sabia-se, inclusive, por todos os envolvidos na campanha que ele não conseguiu estabelecer uma relação amigável com martelada. Eram muito diferentes e estavam em patamares distintos. Um estava em pleno gozo do mandato de deputado federal, disputando circunstancialmente a prefeitura de uma cidade com a qual não tinha identidade. Já o outro, que também havia experimentado a glória e respirado o ar rarefeito dos “que ficam de salto alto”, travava uma briga incansável para voltar a ser “alguém” na vida.

Passados sete dias, lá estavam todos espremidos no apertado palanque de pouco mais de cinco metros quadrados. Cada candidato a vereador matutando a melhor forma possível de utilizar os míseros dois minutos que cada um deles tinha à disposição. Basicamente, o tempo dava somente pra fazer uma brevíssima saudação e informar o nome e o número pelo qual cada um concorria a uma cadeira na câmara municipal. A mediocridade era tamanha que alguns sequer conseguiam desempenhar com desenvoltura a tarefa tão risível.

Todos eles faziam, em outras palavras, figuração para o candidato a prefeito, o grande orador e estrela da noite. Roy Corrói estava firme e já havia combinado a visita, logo após o comício, à casa do ancião que ajudaria a elevar o seu prestígio junto ao staff geral da campanha. Horas antes de subir no palanque, ficou sabendo que o seu futuro apoiador perdeu visão quatro anos antes, dias após completar 72 anos de idade.

Encerrado o comício, realizado com relativo sucesso e embalado ao som do jingle ambientado em melodia arrochante, a trupe política, incluindo a equipe de marketing eleitoral, dirigiu-se para a casa do velhinho, a esta altura do campeonato já se sabendo chamar de Seu Herculano.

O portão de zinco da casinha simples de muro chapiscado estava escancarado e era a senha para que todos entrassem e vissem a terna cena do abraço de Seu Herculano no seu ídolo. Roy Corrói deixou que a sua corda de caranguejos, autodenominada assessoria, fizesse as honras da casa. Sentado em uma cadeira de ferro de construção, ornada em fios de plástico da cor verde, o velho Herculano espreitava cegamente a cena, transmitindo segurança e a sabedoria peculiar aos amigos-irmãos do tempo.

Feita toda a cena, um desses relações públicas naturais da vida, em outra situação geográfica chamado de “simidão”, apressou-se em efetivar o tão esperado encontro.

- Seu Herculano, trouxemos o vereador Roy Corrói para conhecer o senhor.
- Ô, meu fio, cadê a ele? Esperei tanto por esse momento – disse o ancião com a voz levemente afetada pela emoção.
- Vou dar um abraço nele. Se aproxime, por favor – completou.

Apreensivo, Martelada deu três passos à frente e ergueu a mão direita para cumprimentar o admirador. Querendo se certificar de que estava realmente ao lado do político admirado, Seu Herculano perguntou novamente se era o candidato que estava ali, a poucos metros dele. Ouviu um sim coletivo.

Encorajou-se e deu um tapa cinematográfico na face de Corrói, que, sem entender nada, ficou inicialmente sem reação. Em um segundo momento, xingou - de nomes impublicáveis - o assessor que armou o encontro. Saiu apressado, sem saber que jamais sairia da memória coletiva daquele povo. Foi o escolhido, até injustamente, para o dia do troco.

Isso mesmo: o dia em que o povo miserável deu um tapa na cara dos políticos. Poderia ter sido com qualquer um, mas quis o destino que o escolhido fosse Roy Corrói, que dias depois ganhou a eleição e, de quebra, aprendeu que a horda tem lampejos de consciência e costuma selecionar símbolos de vez em quando para cravar – entre tapas e falsos beijos – a máxima popular que diz “Aqui não. Basta!”.

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