O Filho Que Quero Ter

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Outra obra de arte de Chico Buarque. O Filho que Quero Ter é uma música terna, densa, como a força estranha de quem domina pela simplicidade. Segue a letra:


É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer.

Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr.
E assim chorando acalentar
O filho que eu quero ter.

Dorme meu pequenininho,
Dorme que a noite já vem.
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem.

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar,
Quando eu chegar lá de onde vim.

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim.
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim.

Dorme menino levado,
Dorme que a vida já vem.
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem.

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu.

E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz e me embalar
Num acalanto de adeus...

Dorme meu pai, sem cuidado.
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter...

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Geni e o Zepelim

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O ser humano é um ingrato por excelência. Chico Buarque escreveu uma música antológica sobre o tema. Um verdadeiro hino à ingratidão. Vale a pena conferir.


Composição: Chico Buarque

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

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Se a Direita inova na comunicação, qual o papel da Esquerda no comando da máquina?

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Certamente, a geração que tem atualmente entre 25 e 35 anos de idade, ao ouvir - na adolescência - o lugar comum de que a juventude é a esperança de um futuro melhor, não considerava o seu papel estratégico na construção de instituições mais sólidas e eficientes. Cada vez é maior o número de debutantes balzaquianos com destaque na política.

Vi esses dias um exemplo emblemático. São Paulo, o estado mais rico e importante do país, tem um secretário com pouco mais de 30 anos de idade. Trata-se de Bruno Caetano, titular da pasta de Comunicação, que desbancou o todo-poderoso Hubert Alquéres, professor universitário e tido, até então, como um dos bambambãs do pedaço.

Um dos maiores destaques individuais do governo Serra, Caetano é cria (criatura) da juventude do PSDB, com participação no movimento estudantil e experiência em assessoria de vereadores e deputados estaduais. Em setembro de 2007, ele assumiu o cargo com a difícil tarefa de humanizar e tornar mais eficiente a comunicação da gestão tucana.

Suas primeiras medidas foram a regionalização da produção (pautas específicas para os veículos do interior), invadir, no sentido mais amplo da acepção, o universo da internet (foram criados perfis oficiais no twitter, orkut, facebook, flickr e my space) e, por fim, a avaliação das áreas estratégicas (saúde, educação, transportes e segurança) passou a ser realizada a cada quinze dias. Isso mesmo: o tucanato faz sondagens qualitativas duas vezes por mês.

Todos os meses os mais de um milhão de servidores públicos paulistas recebem confortavelmente em casa uma revista, com muitas fotos e somente informações essenciais, sobre as ações de Serra. Todas as propagandas, antes de serem veiculadas no rádio, tevê, outdoor e internet são apresentadas aos funcionários do órgão que cuida da ação/programa relacionada a campanha publicitária. O nome disso é endomarketing. Basicamente, consiste em oferecer aos servidores subsídios para que eles conheçam e, a partir disso, defendam os produtos e a instituição onde cumprem obrigações funcionais.

O trabalho executado por Bruno Caetano tem dados bons resultados, haja visto que a avaliação positiva do governo tem melhorado bastante. E os bons resultados estão desatrelados do aumento excessivo dos gastos em publicidade, que consomem atualmente 0,16% da arrecadação total. Um número considerado médio. O fato é que ter bons projetos faz a diferença. Só para ter idéia, quem mais gasta com propaganda (0,65% da soma total de divisas), dentre todas as unidades federativas do país, é o Amazonas.

Este texto não é um brinde às incursões peessedebistas e muito menos ao gestor da Comunicação oficial do Governo de São Paulo. Bruno Caetano é, aqui, apenas uma metáfora para mostrar que, em muitas áreas, a Esquerda, que por DNA deveria ser revolucionária, é conservadora. Não experimenta o novo e concentra esforços em táticas e figuras ultrapassadas. Prefere, às vezes, em detrimento ao pioneirismo, o bom e velho currículo recheado.

Enquanto isso, a Direita, em posição paradoxal, tem peito de experimentar e bancar um quadro jovem em uma área estratégica como é a comunicação social. Isso é, para mim, a moral da história das linhas rabiscadas acima. Se a direita inova e revoluciona administrativamente, o que resta então para esquerda empreender? A questão merece uma reflexão séria e profunda, porque, mais do que gerir de forma eficaz a máquina pública, é fundamental revelar e qualificar quadros, protagonistas e pontas de lança de projetos técnicos-políticos. (GH)

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