Memória da pele

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Música de João Bosco e do poeta baiano Waly Salomão, que escrevia como se já tivesse morrido. A letra desta canção diz muita coisa. É um brinde aos que pertecem a “raça da pedra dura”, ignóbeis humanóides que aspiram exageradamente o pouco de alguns.

Eu já esqueci você
Tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre
Busco sempre
A sonhar em vão
Cor vermelha carne da sua boca, coração
Eu já esqueci você, tento crer
Seu nome, sua cara, seu jeito, seu odor
Sua casa, sua cama
Sua carne, seu suor
Eu pertenço a raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci
Quem se lembra de você em mim
Em mim
Não sou eu sofro e sei
Não sou eu finjo que não sei, não sou eu
Sonho bocas que murmuram
Tranço em pernas que procuram enfim
Não sou eu sofro e sei
Quem se lembra de você em mim
Eu sei, eu sei
Bate é na memória da minha pele
Bate é no sangue que bombeia
Na minha veia
Bate é no champanhe que borbulhava
Na sua taça e que borbulha agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer
Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer
Sugo sempre
Busco sempre a sonhar em vão
Cor vermelha, carne da sua boca, coração

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Ainda serve

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Transita espigada balançando os braços e as cadeiras pelos corredores vazios de boas idéias. Sacode os cachos tonalizados e coça o olho de maneira especial, de forma a provocar olhares incautos de praticamente todos os circundantes.

Nada parece que é natural. Tenho a impressão de que tudo é treinado e artificial. De tão ensaiado e decorado, tornou-se parte do “seu” ser, como fazem as top models que levam para o dia-a-dia (foda-se o novo acordo ortográfico) o ar andrógino e os trejeitos esquisitos das passarelas.

Se pudesse estabelecer uma comparação de momento para defini-la, o faria talvez com a autora do relato de “A Casa dos Budas Ditosos”. Arpia, sádica, sacana, escrota, envenenada, traidora nata. Helena de Tróia? Um dia talvez, mas ainda terá que melhorar muito.

Fêmea dominante, estaria certamente na arca de Noé dos seres humanos. A camisa dez da seleção feminina de futebol de todos os tempos. Alías, a camiseta de número nove lhe cairia melhor, pois o seu perfil é mais de centroavante do que de meio-campista de armação. Com a bola nos pés, seria uma espécie da Dadá Maravilha de saias, uma matadora nata... incapaz de fazer seis embaixadinhas. Coisas típicas de predadora.

No palco da vida melhor atriz não há. Desarma a todos. Tem sempre uma boa e velha piada na bolsa. Justificativas e desculpas, então, nem se fala. Mas - de quando em vez - a danada faz uma carinha de piedade. Uma expressão, assim, de quem está vazia.

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Desliguei o decodificador

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Não é necessário entender o que o outro está pensando. Existem coisas que simplesmente não foram feitas para gerar explicações, teses, concertos e conceitos. Entendi que talvez o melhor caminho seja abrir mão das tentativas de elucidação dos pensamentos e sentimentos alheios.

Quando eu era criança, minha mãe dizia que um colega dela de infância ficou maluco porque estudava demais e, conseqüentemente, queria entender tudo. A lembrança da voz aguda de Dona Bené - narrando passagens da sua infância em Santo Antonio de Jesus - acendeu um farol amarelo-alaranjado diante de mim. Compreendi a mensagem.
Quem tenta entender demais fica doido. Além disso, o amor próprio é tão grande...

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Sem paciência

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Sabe aquela regra matemática que assegura que mais com mais dá mais? No amor também é assim. Os pólos positivos entram em combustão quando juntos, sai lasca de fogo para tudo que é lado, um rendez- vous total.

Mas tudo que ela quer é ser recessiva de vez em quando, chorar, admitir incapacidade, mostrar-se fraca, impotente, abestalhada, fraca de fé, humana demasiadamente humana, pura e nua como veio ao mundo.

Todavia, isso só acontecerá se o pólo macho fizer uma brusca inflexão à direita. A daminha só quer ser puxada pela mão e ouvir, de vez em quando, cantiga de ninar, pois o bico que exibe não é de zanga. É de dengo.

Tem que ter muita paciência...

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O meu guri - Chico Buarque

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Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!

Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...(3x)

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Faço questão de não ser entendido... Definitivamente

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A boa leitura é bem parecida com o ótimo sexo. Somos tomados por sucessivas sensações transloucas, por vezes insanas, espasmos pleonásticos incontroláveis e uma vontade louca de dominar e ser dominado.

Quando o enredo é bom, não temos vontade de parar. Não obstante a isso, seqüenciamos um capítulo atrás do outro, cada leitor no seu ritmo e estilo de juntar palavras. Uns preferem curtir as letras pela manhã cedo; outros na tardinha ou ainda no último momento antes de dormir.

Mas há também os iletrados: esses elementos deletérios não topam nunca juntar nacos de inhos e de nhãos. Preferem escrever e ler sozinhos, enclausurados em cela assombrada. Vai entender a cabeça de quem dorme no sereno. Mente de gente é terra que ninguém explora, nem colonizador high-tech portador de GPS.

Quando vencemos a última página do livro bom, aquela derradeira que olhamos logo quando pegamos o produto na prateleira, o prazer vem fumegante. A saudade vem em seguida, boa, densa e com gosto de quero mais. No ato posterior, o espírito do mais cético dos metafísicos se eleva. Quer mais, mais e mais. Anseia pelo próximo livro, afinal o prazer do desbravador reside no desafio de chegar aonde ninguém mais chegou.

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Comemorar com galhardia e refletir com a derrota

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Certo dia uma figura admirável, protagonista de muitas experiências, me disse que “ganha quem erra menos”. Refleti sobre isso como quem assimila o silêncio do outro. O grande ensinamento da frase em questão é a admissão de que todo mundo erra; só não erra quem não joga. E, daí, viver sem jogar é não justificar a própria existência e construir uma trajetória com honra genérica.

Quando se faz qualquer investimento, de cara os percentuais de vitória e derrota são os mesmos, cinqüenta por cento de parte a parte. Mas a possibilidade de se dar mal pode nos fazer abrir mão de entrar em disputas? Pode sim. No entanto, se assim o for caracterizam-se os grandes atos de covardia. Ora, ora... para visualizar os brancos peitos de Deus, é necessário, por muitas vezes, flertar com o demônio.

Além disso, como dizia o saudoso mestre Darcy Ribeiro, um dos últimos políticos românticos dos nossos tempos, há derrotas das quais devemos nos orgulhar, pelo simples fato de ter travado o bom combate, lutado com disciplina e, acima de tudo, por defender uma idéia considerável. Não se trata de aceitar a queda numa boa. Assim como a maioria das pessoas, odeio perder. Pois o bom mesmo é ganhar. Melhor ainda é poder aprender com a vitória e a derrota. Fazer de qualquer limão uma limonada.

Comemorar com galhardia e refletir com a derrota é saber viver. Vivamos!

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Tô quase odiando títulos

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Vou recomeçar a temporada de coisas boas. Hoje mesmo, como sem falta, entrarei no universo de Budapeste, de Chico Buarque. Quem sabe assim me venham idéias inspiradoras para colocar o mundo novamente nos eixos. Seria muito bom, né? Mas sabe de uma coisa... não sei se quero não. De vez em quando é tão bom ver as coisas de cabeça para baixo. No mínimo, tenho a oportunidade de enxergar sob um prisma incomum. E no mais, se tudo der certo, vou arrebentar a boca do balão. Tudo é aposta. Sou corajoso e kamikase suficientemente para tentar. Preciso justificar diariamente a minha existência. Assim o faço.

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